O crime aconteceu na noite de sábado (11), por volta das 23h15, na Rua Evaldo da Rosa, bairro Sete. Jonathan Silveira Moura, 27 anos, estava procurando o endereço para fazer a entrega quando foi morto por um tiro.
O motoboy chegou a ser socorrido com vida pela Brigada Militar, mas não resistiu ao ferimento, falecendo no Hospital Getúlio Vargas.
A categoria abalada com mais uma morte em menos de uma semana com mais um colega motofretista, está em choque, pensando se ainda vale a pena trabalhar com entregas. 
No dia 19 de fevereiro, domingo, às 9:00 será realizada a missa de Sétimo dia na Igreja Matriz no centro da cidade de Sapucaia. E logo em seguida, amigos e colegas de profissão farão uma manifestação.

 

 

“Não podemos parar...”

 

“Pensamos em parar, mas aí pensamos, quem vai levar o conforto de ter na porta de casa o lanche, o gás, a farmácia e assim as demais entregas. Não podemos deixar nossa profissão. Tenho duas filhas e esposa e todos os dias saio de casa sem saber se volto, essa é a parte mais triste de estar nas ruas, quando não é um motorista no fechando é assalto com morte, isto tem que acabar! Minha esposa fala todos os dias para eu me cuidar e por favor voltar para casa, mas eu sempre respondo que não posso prometer, por que não sei o que vou encontrar na próxima esquina.
Nós motoboys vivemos uma acelerada de cada vez. Domingo vamos para o centro de Sapucaia em respeito a missa de sete dias, todos com camisetas e faixas pedindo por mais empenho sobre a morte do nosso amigo Bokão.
Não temos ainda uma solução para acabar com estas tragédias, mas nos ajudamos como categoria. Temos um grupo chamado On of Road, onde passamos informações sobre locais de perigo na região, então um colega avisa o outro e nos deslocamos em grupo para fazer a entrega.
O Jonathan era um cara sensacional, parceiro, brincalhão, ajudava bastante os amigos, nunca deixou ninguém na mão, até ceder um dia de trabalho para outro colega ele cedeu. Estamos arrasados, esta morte não tem explicação, foi pura covardia! Mas ainda sim não podemos parar!”

 

Rodrigo Queiroz, 33 anos.

 

 

“Somos uma categoria unida!”

 

“Conhecia o Jonathan já faziam mais de dez anos, conheço a família e todo o círculo de amigos dele. Era um rapaz trabalhador, estudou, fez vários cursos e optou por trabalhar como motoboy. Já faziam mais de sete anos que ele trabalha na área. Ele sempre teve muito orgulho de participar da categoria, apesar das dificuldades.
Eu trabalho a pouco mais de dois anos e realmente me questiono sobre a minha permanência na área. Acho difícil encontrar uma profissão onde tenha tantas variáveis e preço da gasolina, manutenção da moto equipamentos de proteção, documentação, a nossa própria segurança. Temos que nos cuidar no trânsito, cuidar dos outros... Sabe isso dificulta muito o trabalho, às vezes trabalhamos por menos que um cachorro quente que hoje custa quase nove reais, tem gente que quer pagar três reais como é o caso dos motoboys de fora de Porto Alegre, conheço donos de lojas que abusam, descontam o valor da tele só por que é perto.
Tem empresas que contratam o motoboy e pedem pra ele ficar do outro lado da rua, para não ficar em frente da loja, isso ainda existe. Colegas na chuva esperando entregas, sem segurança, sem o mínimo, sem acesso a água e banheiro. Empresários que simplesmente descumprem os acordos.
Muitas vezes é estabelecida uma área de entrega visando não entrar em áreas de risco, os donos ignoram, sempre aceitam os pedidos desses lugares. Falo isso por que conheço muitos colegas que trabalham com entrega de comida, e é assim, essa guerra diária. Ruas mal sinalizadas, iluminação péssima...
Mas nem tudo é ruim, o que começou como uma renda extra, hoje vejo fonte de renda principal. Tem muita gente boa dentro da categoria e nunca mesmo vi uma profissão onde os colegas se ajudam tanto, são unidos. Eu trabalho em uma cooperativa, quando algum colega nosso se acidenta nós tratamos de nos reunirmos e fazer uma vaquinha pra ajudar, não é muito, mas já dá uma cesta básica, não conseguimos ajudar todos, mas já é um começo!”

 

Juliano Santos, 29 anos.

 

 

“Sentiremos sua falta...”

 

“Neste momento o sentimento que eu tenho é de revolta. E de um modo geral falando de governo ele tem dinheiro para um monte de coisa, mas para o serviço essencial não tem grana, é a polícia recebendo parcelado, professores, funcionários públicos. E desta forma nós ficamos sem ter para onde correr, saímos de casa rezando para quem sabe voltarmos”
Sentimos pela falta de segurança e pela vida da gente e refletimos se vale a pena continuar trabalhando na noite. Apesar de não ter hora para ser assaltado, continuamos trabalhando por que temos filhos para sustentar.
O Jonathan como colega e amigo era 100%. Sempre estava pronto e disposto a ajudar. Eu me lembro de quando eu estava sem serviço, e ele me disse “cara tu é pai de família, vou te dar um dia da minha semana pra ti trabalhar”. E eu sei que ele fez isso de coração, fez isso para eu conseguir um dinheiro a mais, fez isso para me ajudar. 
“Foi muito triste voltar a trabalhar e ver que ele não está mais aqui, fazendo brincadeiras, rindo, foi difícil, inexplicável”.

 

Jorge Augusto Camargo da Silva, 36 anos.

 

 

“Um grande amigo e colega de profissão”

 

“Nós trabalhávamos juntos, sempre fomos muito amigos. O que sinto neste momento é um sentimento de tristeza e revolta porque quem cometeu o crime está solto por aí e provavelmente vai fazer de novo. A dor no coração é enorme, não existe um dia que eu não me lembre dele, afinal nos falávamos todos os dias. Nas folgas saíamos juntos, não existia tristeza perto dele estava sempre brincando, fazendo todos rirem. É muito triste agora subir na moto para trabalhar, eu chamava ele de pai, por que tudo que sei foi ele que me ensinou”.

 

Rafael Machado Rotfucks, 22 anos

 

 

“De alguma forma ainda estou esperando por ele...”

 

“Neste momento sinto dor, impotência e injustiça, o que aconteceu com ele foi muito injusto, ele não queria nada demais somente trabalhar e ganhar seu dinheiro honestamente, faltava menos de uma hora pra chegar em casa.
Jonathan era uma pessoa muito tranquila, não bebia, não tinha vícios, sua rotina era quase sempre a mesma, frequentávamos a academia juntos e trabalhava, inclusive aos finais de semana, enquanto todos saem, descansam, ele estava trabalhando, sol e chuva e mesmo assim não reclamava, sempre sorrindo.
Ele queria muito ter filhos, e isso influenciou muito ele para começar a levar currículos nas empresas e assim ele fez, faziam algumas semanas que ele frequentava entrevistas e nessa segunda após a morte dele, chamariam ele pra se apresentar em uma empresa em Canoas, o que ele queria tanto ele havia conseguido. Queria também ficar mais tempo em casa, com amigos, família. Jonathan era uma pessoa honesta, trabalhadora, cheia de planos e super animado, sempre sorrindo, mesmo se passasse por alguma dificuldade não deixava se abater.
O que conforta a nossa família é saber o quanto ele era querido por todos, cativava todo mundo, ver as pessoas unidas, se mobilizando para que de alguma forma a morte dele não tenha sido em vão, isso é emocionante.
Só quero justiça para que não aconteça novamente isso com outro inocente, não desejo pra ninguém a dor que estamos sentindo, ver alguém que amamos, nos deixando de forma tão covarde e violenta é triste demais, não tinha quem não gostava dele.
Quero dizer aos seus colegas motoboys que ele tinha orgulho da classe, gostava muito do que fazia, e que não deixem que a morte dele tenha sido em vão, que tenham muito cuidado e que Deus os proteja sempre para que possam voltar pra casa, para seus familiares, por que eu, eu de alguma forma ainda estou esperando por ele.

 

Laís Moura, esposa de Jonathan.

 

 

“Nossa luta não termina por aqui, seguimos em frente!”

 

“O Sindimoto desde a sua fundação vem lutando pelo reconhecimento e a segurança da categoria. Sabemos dos abusos praticados por empresários, como aqueles que vemos relatados na fala dos colegas. Sabemos dos riscos que corremos quando nos deslocamos para fazer uma entrega, ao andar no trânsito, ao enfrentar a chuva, o calor, o frio, e os assaltos. E quando tomamos conhecimento de uma covardia como essa, realmente nos sentimos impotentes, sem saber o que fazer, e quando buscamos por segurança, a única reposta que temos das autoridades é que vão investigar. 
Pois bem, fizemos aquela manifestação um dia após o crime cometido, participamos assiduamente, e faremos outra após a missa de sétimo dia. Agora não podemos permitir que o caso seja esquecido, devemos lembrar todos os dias do nosso amigo, e saber que poderá acontecer conosco; se for esquecido o caso dele e não cobrarmos da justiça, e de quem tem obrigação de nos dar segurança, a morte dele será apenas mais um número nas estatísticas do Governo.
O Sindimoto não vai permitir que isso ocorra, nós vamos cobrar todos os dias, com o apoio da nossa categoria, assim como dos colegas de Sapucaia; demos nos unir mais, temos que nos ajudar mais, lutar mais pelos nossos direitos. Se ficarmos distantes uns dos outros na hora da dificuldade, na hora em que somos humilhados na porta das empresas, quando não somos bem recebidos, muitas vezes sem receber sequer água ou banheiro para utilizar, se não brigarmos juntos pelos nossos direitos, continuaremos sendo humilhados; mas não é o Sindimoto que vai conseguir mudar tudo isso sozinho, temos que estar juntos nessa luta.
Lamentamos o ocorrido, mas apoiaremos a família, fazendo prevalecer todos os direitos que ele deixou em prol daqueles que ele tanto amava, e é desta forma que nós vamos atuar.
É lamentável, mais uma vida que se vai inocentemente. E o tal ‘direitos humanos’, nesta hora não veem, não enxergam a morte do trabalhador e quando este bandido for preso, vai ser defendido. Mas nossa luta não termina por aqui, seguimos em frente”.

 

Valter Ferreira, Presidente do Sindimoto/RS